sexta-feira, 3 de julho de 2009

Mais uma da TAP

As histórias da TAP davam para uma novela. E nem era necessário inventar nada. Ora vejam só.

No domingo passado decidi que tinha que ir para Madrid na 2ª feira. Meti-me no site da TAP, escolhi horários, cartão VISA, etc. e no momento de pagar, o sistema deu um erro de cartão. Erro de cartão mas cuidado com o detalhe: debitou-me 1 euro que é uma prática habitual para ver se o cartão é válido. Pelos vistos é. Bom, repeti a operação. Às vezes há erros. Pois há, deu-me o mesmo erro. Mas ao debitar de novo 1 euro, voltou a não dar erro.

Já chateado tive que telefonar para o call center e foi então que me esclareceram o problema: a TAP não permite comprar bilhetes de um dia para o outro no site. Ou seja, um eventual passageiro pode escolher um voo para o dia seguinte, validar a viagem, meter todos os dados do cartão de crédito, ser-lhe debitado 1 euro e a mensagem que recebe é a de “erro no cartão” ? Esta gente é mesmo incompetente. Não era mais lógico não deixar escolher uma viagem para o dia seguinte e dizer logo o porquê ? Muito complicado para estas cabecinhas. Importa dizer que, ao comprar através do call center, o bilhete custava mais 10 euros. Isto é que é um verdadeiro imposto revolucionário.

Já dizia Einstein que só há duas coisas que são infinitas: o universo e a estupidez humana mas acerca da primeira não tinha tanta certeza. Isto aplica-se que nem uma luva à TAP.

Hoje voltei a tentar comprar um bilhete. Desta vez para a próxima semana, já não é para o dia seguinte. O mesmo, problemas sem especificar com o cartão. Então qual foi a solução ? Comprar com esse mesmo cartão mas noutra companhia aérea.

TAP, vejam lá ver se percebem que há pessoas que querem comprar bilhetes nos vossos aviões e não podem. É assim tão difícil ? Não há ninguém que veja isto ? Claro que se as coisas derem para o torto, o Zé Povinho paga.

Desta vez é na FNAC

Ao contrário do que nos quer fazer a Lurdinhas, os alunos são, na sua grande maioria, uns ignorantes. A ideia que prevalece na educação é a de que é indiferente como se escreve ou o que se diga desde que se perceba a mensagem. Por exemplo, Diário de Noticias: “CD para bebés gratis” quando queriam dizer “CD grátis para bebés”. Perceberam ? Então tanto faz. Acabo de ver um anúncio na TV que é do mesmo estilo: “Tenho lâmpadas em casa de baixo consumo” em vez de “Tenho em casa lâmpadas de baixo consumo”.

Dentro desta linha de pensamento (pensamento ????????), os estrangeirismos até são finos. Ora vejam só o que está escrito numa das secções de livros da FNAC no Vasco da Gama: Artes Performativas. Acreditem. Não perceberam ? Pois eu explico. Trata-se das artes de interpretação como a música, o bailado, o teatro, etc. E como é que se diz isto em inglês ? Performing Arts, logo em português tem que ser Artes Performativas. Isto numa secção de livros. Não há ninguém que veja isto ? A única conclusão é a de que todos os que trabalham na FNACno Vasco da Gama são ignorantes. Ou cegos.

Parabéns FNAC.

Crónica do Miguel de Sousa Tavares

O Miguel de Sousa Tavares é, talvez, o único jornalista decente em Portugal que não comunga com as mentiras e falácias propagadas pelos meios de comunicação e outras "agências". Será genético pois quem se lembra do pai sabe que a cepa é a mesma. Faz perguntas incómodas e, por isso, é para muita gente e meios de comunicação servis com o Estado/Governo, um empestado. Confesso que é com prazer que leio as crónicas dele. Aqui em cima está o link para a do ultimo sábado mas, quero deixar aqui no meu blog não vá a coisa desaparecer. O que assusta é que é tudo verdade. Aqui vai:

Miguel Sousa Tavares
8:00 Segunda-feira, 29 de Jun de 2009

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:

- É sempre assim, esta auto-estrada?

- Assim, como?

- Deserta, magnífica, sem trânsito?

- É, é sempre assim.

- Todos os dias?

- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.

- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?

- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.

- E têm mais auto-estradas destas?

- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.

- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?

- Porque assim não pagam portagem.

- E porque são quase todos espanhóis?

- Vêm trazer-nos comida.

- Mas vocês não têm agricultura?

- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.

- Mas para os espanhóis é?

- Pelos vistos...

Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:

- Mas porque não investem antes no comboio?

- Investimos, mas não resultou.

- Não resultou, como?

- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.

- Mas porquê?

- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.

- E gastaram nisso uma fortuna?

- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...

- Estás a brincar comigo!

- Não, estou a falar a sério!

- E o que fizeram a esses incompetentes?

- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.

- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?

- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.

Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.

- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?

- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.

- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?

- Isso mesmo.

- E como entra em Lisboa?

- Por uma nova ponte que vão fazer.

- Uma ponte ferroviária?

- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.

- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!

- Pois é.

- E, então?

- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.

Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.

- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...

- Não, não vai ter.

- Não vai? Então, vai ser uma ruína!

- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.

- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?

- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!

- E vocês não despedem o Governo?

- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...

- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?

- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.

- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?

- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.

- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?

- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.

Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:

- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?

- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.

- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?

- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.

- Não me pareceu nada...

- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.

- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?

- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.

- E tu acreditas nisso?

- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?

- Um lago enorme! Extraordinário!

- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.

- Ena! Deve produzir energia para meio país!

- Praticamente zero.

- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!

- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.

- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?

- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.

- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?

- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.

Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:

- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?

- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.

Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:

- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!